VOCÊ CONHECE O HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO?
O hipotireoidismo congênito (HC) é uma das causas evitáveis mais comuns de deficiência intelectual e uma das doenças endócrinas mais frequentes na infância.
Na maioria dos casos, o HC acontece devido a:
- Defeito no desenvolvimento da glândula tireóide
- Defeito na produção dos hormônios da tireoide: a glândula se desenvolveu normalmente, mas não produz os hormônios.
Muito raramente, o HC permanente pode resultar de outros fatores secundários, como um defeito na hipófise ou no hipotálamo (chamado de hipotireoidismo central ou secundário/terciário).
O HC pode ser causado por uma variedade de fatores, ambientais e genéticos. A grande maioria dos casos de HC são casos isolados e não há histórico familiar.
O HC é uma importante doença que acomete 1 em cada 2.500 mil recém-nascidos e que se não é tratada pode levar a sintomas graves.
O HC faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal do SUS, o Teste do Pezinho. Se identificada no teste do pezinho e tratada precocemente, as crianças com a doença tem desenvolvimento físico e intelectual na faixa da normalidade.
O HC também é uma das 320 doenças do Teste da Bochechinha, o teste de triagem neonatal genética.
Leia o post que preparamos sobre hipotireoidismo congênito
O QUE É HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO?
O hipotireoidismo congênito (HC) é uma doença caracterizada pela perda parcial ou completa da função da glândula tireoide (chamado de hipotireoidismo) que afeta os bebês desde o nascimento (por isso é chamado de congênito).
A glândula tireoide é um tecido em forma de borboleta localizado na parte inferior do pescoço. A tireoide produz hormônios que contêm iodo muito importantes para o organismo durante toda a vida. Na infância, esses hormônios participam do crescimento, do desenvolvimento do cérebro e no metabolismo do corpo.
O HC acontece quando a glândula tireoide não se desenvolve ou não funciona perfeitamente, fazendo com que as crianças com HC tenham níveis muito baixos dos hormônios tireoidianos (tiroxina, T3 e triiodotironina, T4).
O HC pode ser classificado em primário, secundário e terciário:
- Primário: quando ocorre uma alteração na formação ou na função da glândula tireoide.
A maioria dos casos (85%) é causada pela disgenesia tireoidiana, que pode ser a ausência da glândula (agenesia, 35-40% dos casos), redução do seu tamanho (hipoplasia, 5%) ou a localização anormal (ectopia, 30-45%) da glândula tireoide.
Nos 15% restantes dos casos do HC Primário, uma tireoide de tamanho normal ou aumentada está presente, mas há falhas na produção dos hormônios tireoidianos, chamada de disormonogênese.
- Secundário: quando ocorre deficiência do hormônio estimulador da tireoide (TSH) hipofisário (a hipófise é a glândula localizada no cérebro e que atua na tireoide);
- Terciário: quando ocorre uma deficiência do hormônio liberador da tireotrofina (TRH) no hipotálamo (órgão presente no cérebro e que atua na tireoide);
As formas secundária e terciária de HC são também classificadas como Hipotireoidismo Congênito Central são muito raras. A incidência é de um caso para aproximadamente 100 mil recém-nascidos vivos.
QUAL É A CAUSA DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO?
O HC pode ser causado por uma variedade de fatores, ambientais e genéticos. A grande maioria dos casos de HC são casos isolados e não há histórico familiar.
Apenas 15-20% dos casos da doença tem causa genética conhecida.
Ingestão materna de iodo em excesso ou deficiente, uso materno de medicamentos antitireoidianos, passagem de anticorpos maternos que bloqueiam o receptor de TSH pela placenta e grandes hemangiomas hepáticos são algumas causas ambientais conhecidas.
Geralmente, a disgenesia tireoidiana ocorre esporadicamente e sua causa não é conhecida. Em 2% dos casos a causa são mutações em genes responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento da glândula tireoide (como o NKX2-1, FOXE1, TSHR e PAX8).
A disormonogênese tireoidiana está associada a alterações em um dos vários genes envolvidos na produção de hormônios da tireoide, incluindo os genes DUOX2, DUOX2A, SLC5A5, TG, TPO, NIS, PDS e THOX2. Alterações nesses genes interrompem a produção e ocasionam os baixos níveis dos hormônios tireoidianos.
O Hipotireoidismo Congênito Central é, geralmente, causado por alterações estruturais, ou de desenvolvimento, do hipotálamo ou da hipófise, e está associado a alterações em diversos genes, como o HESX1, LHX4, TSHB , THRH, IGSF1, TBL1X.
Alterações em outros genes, não citados nesse texto também podem causar HC.
COMO O HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO É HERDADO?
A maioria das formas genéticas HC Primário possui um padrão de herança autossômico recessivo. Nesses casos, para ter a doença, o bebê precisa herdar as duas cópias do gene alterado, uma do pai e outra da mãe.
Quando a criança herda apenas um gene alterado (do pai ou da mãe), considera-se que a ela é “portadora” (do inglês, “carrier”). Portadores não têm sintomas da doença, porém podem transmitir o gene alterado para seus filhos.
Em outros casos, como quando a doença é causada por mutações nos genes PAX8, TSHR e DUOX2 o HC apresenta um padrão de herança autossômico dominante. Isto é, nesses casos, herdar apenas uma cópia do gene alterado é suficiente para causar a doença.
Essa alteração genética “dominante” que causa a doença pode não ser herdada e ter surgido nos gametas dos pais ou durante o desenvolvimento embrionário. Isso explica causas genéticas de HC sem histórico familiar.
O padrão de herança do HC está ligado ao gene alterado, portanto, para entender como o HC pode ser transmitido entre as famílias, é necessário conhecer o gene que está causando a doença e analisar a família do bebê.
COMO É FEITO O TRATAMENTO DA DOENÇA?
O tratamento envolve medicamentos para substituir os hormônios da tireoide que estão ausentes, como a levotiroxina. O início do tratamento é fundamental para prevenir sequelas, principalmente neurológicas.
QUAIS OS PRINCIPAIS SINTOMAS DA DOENÇA?
A dependência dos hormônios tireoidianos para formação do sistema nervoso central abrange desde a fase do desenvolvimento embrionário até os dois anos de idade.
Os principais sintomas da ausência dos hormônio tireoidianos são deficiência intelectual e manifestações neurológicas incluindo ataxia, incoordenação, estrabismo, movimentos coreiformes e perda auditiva.
A maioria das crianças com HC nasce aparentemente clinicamente normal e os sintomas, que são geralmente inespecíficos, podem ter manifestação lenta (semanas ou meses após o nascimento). Por isso, somente uma pequena parcela das crianças são diagnosticadas clinicamente.
Assim a triagem neonatal da doença é fundamental.
COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA DOENÇA?
O HC é considerado uma emergência pediátrica e faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal do SUS, o Teste do Pezinho. Caso não seja diagnosticado precocemente, a partir da 2ª semana de vida a deficiência dos hormônios tireoidianos poderá causar sintomas neurológicos graves no bebê.
Por outro lado, crianças identificadas no teste do pezinho e tratadas tem desenvolvimento físico e intelectual na faixa da normalidade.
O Teste do Pezinho é realizado através da coleta de gotas de sangue do calcanhar do bebê e o momento ideal para a coleta é entre 48h a 72h de vida.
No Brasil, o teste de triagem neonatal de HC analisa a concentração do hormônio TSH no sangue dos bebês. Contudo, o teste não é considerado um exame diagnóstico e bebês com o Teste do Pezinho alterado, são convocados para uma consulta médica, com repetição do teste e avaliação clínica para a confirmação do diagnóstico.
Para a confirmação do diagnóstico é necessário realizar a dosagem do hormônio T4 (total e livre) e do TSH em amostra de sangue.
É importante salientar que cerca de 5%-10% dos casos de HC não são diagnosticados no período neonatal devido à elevação tardia do TSH. Por isso, caso o bebê apresente sintomas sugestivos de HC, recomenda-se realizar a dosagem hormonal, mesmo que tenha apresentado resultados normais no Teste do Pezinho.
POR QUE O TESTE DA BOCHECHINHA É IMPORTANTE PARA O DIAGNÓSTICO PRECOCE DO HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO?
O HC é uma das 320 doenças do Teste da Bochechinha, o teste de triagem neonatal genética. A pesquisa por formas genéticas da doença é importante para identificar alterações no desenvolvimento e funcionamento da tireoide antes dos primeiros sintomas surgirem no bebê.
Bebês com alto risco de desenvolver HC, identificados no Teste da Bochechinha, podem iniciar precocemente o acompanhamento médico e tratamento da doença.
Utilizando a moderna técnica de sequenciamento de nova geração (NGS) para analisar o DNA do bebê, o teste identifica alterações nos principais genes associados a HC, entre os quais:
- Coreoatetose, Hipotireoidismo Congênito e Disfunção Pulmonar (NKX2-1)
- Deficiência Combinada de Hormônios Hipofisários (IGSF1, TRHR, TSHB, LHX3, LHX4, OTX2, POU1F1, PROP1, SOX3)
- Diabetes Neonatal e Hipotireoidismo Congênito (GLIS3)
- Disgenesia de tireoide (TUBB1)
- Disormonogênese Tireoidiana (DUOX2, DUOXA2, IYD, SLC5A5, TG, TPO)
- Displasia Septo-Óptica (HESX1)
- Hipotireoidismo Central e Surdez (TBL1X)
- Hipotireoidismo Congênito (FOXE1, SLC26A7, NKX2-5, PAX8, TSHR)
- Hipotireoidismo Central Congênito (IRS4)
É importante ressaltar que o Teste da Bochechinha não identifica formas não genéticas de HC e por isso ressaltamos que o nosso teste genético complementa a análise do Teste do Pezinho.
MEU FILHO TEM SUSPEITA DE HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO, POSSO FAZER O TESTE DA BOCHECHINHA PARA CONFIRMAR O DIAGNÓSTICO?
O Teste da Bochechinha é um teste de triagem neonatal que busca identificar bebês com risco alto de desenvolver em algum momento da infância as doenças analisadas no teste. Quando a criança já manifesta sinais ou sintomas de alguma doença, recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita.
Para o diagnóstico de HC, a Mendelics oferece vários exames que analisam os genes associados as formas autossômica recessiva e dominante da doença, incluindo o Painel de Doenças Tratáveis e o Painel das Endocrinopatias Neonatais. É importante ressaltar que exames de diagnóstico só podem ser realizando mediante solicitação e acompanhamento médico.
Converse com o seu médico e entre em contato com nossa equipe para mais informações.
Referências
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/triagem_neonatal_biologica_manual_tecnico.pdf
https://rarediseases.info.nih.gov/diseases/1487/congenital-hypothyroidism
https://ghr.nlm.nih.gov/condition/congenital-hypothyroidism#diagnosis
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