O que é Hipotireoidismo Congênito?
O hipotireoidismo congênito (HC) é uma doença rara caracterizada pela perda parcial ou completa da função da glândula tireoide (hipotireoidismo) desde o nascimento (por isso é chamado de congênito).
É uma doença grave que acomete 1 em cada 2.500 mil recém-nascidos e, se não tratada, pode levar a sintomas graves.
A glândula tireoide é um tecido em forma de borboleta (com dois lobos) localizado na parte inferior do pescoço. A tireoide atua na produção dos hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), responsáveis pela regulação de todos os sistemas do organismo e essenciais durante toda a vida. Na infância, esses hormônios estão envolvidos no crescimento, no desenvolvimento do cérebro e no metabolismo do corpo. |
O hipotireoidismo congênito é uma das causas mais comuns de deficiência intelectual e uma das doenças endócrinas mais frequentes na infância, mas que pode ser evitada.
Quais os principais sintomas do Hipotireoidismo Congênito?
Os hormônios tireoidianos são fundamentais para a formação do sistema nervoso central desde o desenvolvimento embrionário até os dois anos de idade. Por isso, os principais sintomas da ausência dos hormônios tireoidianos são deficiência intelectual e manifestações neurológicas incluindo ataxia, incoordenação, estrabismo, movimentos coreiformes e perda auditiva.
A maioria das crianças com hipotireoidismo congênito nasce sem manifestações clínicas aparentes e os sintomas, geralmente inespecíficos, podem surgir semanas ou meses após o nascimento. Em consequência disso, somente uma pequena parcela dos recém-nascidos são diagnosticados clinicamente. Por isso, a triagem neonatal da doença é tão fundamental.
Hipotireoidismo Congênito: causas e classificações
O hipotireoidismo congênito ocorre quando a glândula tireoide não se desenvolve ou não funciona perfeitamente, podendo ser classificado, dessa forma, em primário, secundário e terciário:
- Primário: quando ocorre uma alteração na formação ou na função da glândula tireoide.
A maioria dos casos (85-90%) é causada pela disgenesia tireoidiana, que pode ser a ausência da glândula (agenesia, 35-40% dos casos), redução do seu tamanho (hipoplasia, 5%) ou a localização anormal (ectopia, 30-45%) da glândula tireoide.
Nos 10-15% restantes dos casos de HC Primário, uma tireoide de tamanho normal ou aumentada está presente, mas há falhas na produção dos hormônios tireoidianos, chamada de disormonogênese.
- Secundário: quando ocorre deficiência do hormônio estimulador da tireoide (TSH) hipofisário (a hipófise é a glândula localizada no cérebro que, dentre outras funções, atua no controle da tireoide).
- Terciário: quando ocorre uma deficiência do hormônio liberador da tireotrofina (TRH) no hipotálamo (órgão presente no cérebro que, dentre outras funções, atua no controle da tireoide).
As formas secundária e terciária de HC são também classificadas como Hipotireoidismo Congênito Central, e são muito raras: a incidência é de 1 caso para aproximadamente 100 mil nascidos vivos.
A maioria dos casos de hipotireoidismo congênito ocorre isoladamente e não há histórico familiar. A doença pode ser causada por uma variedade de fatores, ambientais e genéticos.
Algumas causas ambientais conhecidas são: ingestão materna insuficiente ou em excesso de iodo durante a gestação, uso materno de medicamentos antitireoidianos, passagem de anticorpos maternos que bloqueiam o receptor de TSH pela placenta e grandes hemangiomas hepáticos.
A genética do Hipotireoidismo Congênito
Cerca de 15-20% dos casos de hipotireoidismo congênito têm causa genética conhecida.
Em 2% dos casos de disgenesia tireoidiana, a causa são mutações em genes responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento da glândula tireoide (como NKX2-1, FOXE1, TSHR e PAX8).
A disormonogênese tireoidiana está associada a alterações em um dos vários genes envolvidos na produção de hormônios da tireoide, incluindo os genes DUOX2, DUOX2A, SLC5A5, TG, TPO, NIS, PDS e THOX2. Alterações nesses genes interrompem a produção e ocasionam os baixos níveis dos hormônios tireoidianos.
O Hipotireoidismo Congênito Central é, geralmente, causado por alterações estruturais, ou de desenvolvimento, do hipotálamo ou da hipófise, e está associado a alterações em diversos genes, como o HESX1, LHX4, TSHB , THRH, IGSF1, TBL1X.
Como o Hipotireoidismo Congênito é herdado?
A maioria das formas genéticas do Hipotireoidismo Congênito Primário possui um padrão de herança autossômica recessiva. Nesses casos, para ter a doença, o bebê precisa herdar as duas cópias do gene alterado, uma do pai e outra da mãe.
Quando a criança herda apenas um gene alterado (do pai ou da mãe), ela é considerada“portadora” (do inglês, “carrier”). Portadores não têm sintomas da doença, porém podem passar o gene alterado para seus filhos.
Em outros casos, quando a doença é causada, por exemplo, por mutações nos genes PAX8, TSHR e DUOX2, o hipotireoidismo congênito apresenta um padrão de herança autossômica dominante. Isto é, herdar apenas uma cópia do gene alterado é suficiente para causar a doença.
A alteração genética que causa a doença em um padrão “dominante” pode não ter sido herdada, mas ter surgido pela primeira vez na criança (mutação nova). Isso explica os casos de hipotireoidismo congênito causados por alterações genéticas e sem histórico familiar.
O padrão de herança depende de qual gene está alterado. Portanto, é necessário o diagnóstico genético e aconselhamento com geneticista para entender a chance de ser transmitido e causar a doença em outros membros da família.
O Hipotireoidismo Congênito tem cura?
O hipotireoidismo congênito não tem cura, mas tem tratamento.
O tratamento envolve medicamentos para substituir os hormônios da tireoide que estão ausentes (reposição hormonal), como a levotiroxina. O início do tratamento é fundamental para prevenir as consequências do avanço dos sintomas, principalmente sequelas neurológicas.
Como diagnosticar o Hipotireoidismo Congênito?
O hipotireoidismo congênito é considerado uma emergência pediátrica e faz parte do Programa Nacional de Triagem Neonatal do SUS, o Teste do Pezinho.
Crianças identificadas na triagem neonatal e tratadas precocemente têm desenvolvimento físico e intelectual dentro do esperado para a idade. Caso não seja diagnosticado e tratado precocemente, a partir da 2ª semana de vida a deficiência dos hormônios tireoidianos poderá causar sintomas neurológicos graves no bebê.
O Teste do Pezinho é realizado através da coleta de gotas de sangue do calcanhar do bebê e o momento ideal para a coleta é entre 48h e 72h de vida.
No Brasil, o teste de triagem neonatal de hipotireoidismo congênito analisa a concentração do hormônio TSH no sangue dos bebês. Contudo, o teste não é considerado um exame diagnóstico e bebês com o Teste do Pezinho alterado são convocados para uma consulta médica, com repetição do teste e avaliação clínica para a confirmação do diagnóstico.
Para a confirmação do diagnóstico é necessário realizar a dosagem do hormônio T4 (total e livre) e do TSH em amostra de sangue.
Cerca de 5%-10% dos casos de HC não são diagnosticados no período neonatal devido à elevação tardia do TSH. Por isso, caso o bebê apresente sintomas sugestivos de HC, recomenda-se realizar a dosagem hormonal, mesmo que tenha apresentado resultados normais no Teste do Pezinho.
Por que o Teste da Bochechinha é importante para o diagnóstico precoce do Hipotireoidismo Congênito?
O hipotireoidismo congênito é uma das 340 doenças investigadas no Teste da Bochechinha. A pesquisa por formas genéticas da doença é importante para identificar alterações no desenvolvimento e funcionamento da tireoide antes dos primeiros sintomas surgirem no bebê.
Bebês com alto risco de desenvolver hipotireoidismo congênito, detectado no Teste da Bochechinha, podem iniciar precocemente o acompanhamento médico e tratamento da doença.
Utilizando a moderna técnica de sequenciamento de nova geração (NGS) para analisar o DNA do bebê, o teste identifica alterações nos principais genes associados ao HC:
- Coreoatetose, Hipotireoidismo Congênito e Disfunção Pulmonar (NKX2-1)
- Deficiência Combinada de Hormônios Hipofisários (IGSF1, TRHR, TSHB, LHX3, LHX4, OTX2, POU1F1, PROP1, SOX3)
- Diabetes Neonatal e Hipotireoidismo Congênito (GLIS3)
- Disgenesia de tireoide (TUBB1)
- Disormonogênese Tireoidiana (DUOX2, DUOXA2, IYD, SLC5A5, TG, TPO)
- Displasia Septo-Óptica (HESX1)
- Hipotireoidismo Central e Surdez (TBL1X)
- Hipotireoidismo Congênito (FOXE1, SLC26A7, NKX2-5, PAX8, TSHR)
- Hipotireoidismo Central Congênito (IRS4)
Observação: o Teste da Bochechinha não identifica formas não genéticas do hipotireoidismo congênito.
Meu filho tem suspeita de Hipotireoidismo Congênito, posso fazer o Teste da Bochechinha para confirmar o diagnóstico?
O Teste da Bochechinha é um teste de triagem neonatal genética que busca identificar bebês com risco de desenvolver doenças que se manifestam logo nos primeiros meses ou anos de vida.
Quando a criança já manifesta sinais de alguma doença, recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita.
Para o diagnóstico de HC, a Mendelics oferece vários exames que analisam os genes associados às formas autossômica recessiva e dominante da doença, incluindo o Painel de Doenças Tratáveis e o Painel das Endocrinopatias Neonatais.
É importante ressaltar que exames de diagnóstico, diferentemente dos testes de triagem, só podem ser realizados mediante solicitação e acompanhamento médico.
Converse com o seu médico e entre em contato com nossa equipe para mais informações.
Referências
- Schoenmakers N. The genetic basis of congenital hypothyroidism. Endocrinology.org.
- Congenital hypothyroidism | Genetic and Rare Diseases Information Center (GARD) – an NCATS Program. Nih.gov.
- Ministério D, Saúde. Triagem neonatal biológica Manual Técnico.; 2016.
- Congenital hypothyroidism: MedlinePlus Genetics. Medlineplus.gov.
- De C, Dantas A, Secretária A, et al. Hipotireoidismo Congênito: Triagem Neonatal Departamento Científico de Endocrinologia Presidente.
- Wassner, A. J. (2018). Congenital Hypothyroidism. Clinics in Perinatology, 45(1), 1–18. doi:10.1016/j.clp.2017.10.004
Meus dois filhos tem hipotireoidismo descobri no teste do pezinho, a causa é por conta do gene alterado dos pais, ou só da mãe ? Quando acontece isso de irmãos ter a doença é por conta dessa junção ou teria outra explicação?
Olá Isa, agradecemos seu interesso nos conteúdos do nosso blog!
O hipotireoidismo pode ser causado por diversos fatores. Somente cerca de 15-20% têm causa genética conhecida. Infelizmente, não é possível determinar se a causa da doença é genética por exames laboratoriais tradicionais.
O hipotireoidismo de causa genética tem padrão de herança recessivo, por isso, caso seus filhos tenham alguma forma genética da doença, a mutação deve ter sido herdada de ambos os pais.
Quaisquer outras dúvidas, estamos à disposição.
olá meu filho tem 1 mês e 13 dias de nascido. Há uma semana ele repetiu o teste do pezinho pq o TSH dele deu muito alterado 36,10 uni gostaria de saber se ele já era para estar entrando em tratamento com a medição.
Olá Juliana,
Sugerimos que converse diretamente com o médico que acompanha seu filho para saber qual a recomendação.
Estamos à disposição.
Pode acontecer de um filho ter hipotireoidismo e outro não?
Olá, Vanessa!
Agradecemos o seu comentário no blog!
Sim, isso é possível.
No caso de hipotireoidismo de causa genética, dependendo do padrão de herança da doença, a chance de um filho nascer afetado pela condição varia.
Exemplificando: no caso de hipotireoidismo cujo padrão de herança é autossômico recessivo, em cada gestação, o filho de um casal em que ambos os pais são portadores do gene alterado tem 25% de chance de nascer com a condição (com hipotireoidismo) e 75% de nascer sem a condição.
No caso de hipotireoidismo congênito causado por outros fatores, é possível que um filho tenha sido exposto a determinadas condições ambientais no ambiente uterino que o levaram a desenvolver a doença, enquanto que o outro filho não.
Esperamos que tenha ajudado a entender mais sobre o assunto!
Equipe Teste da Bochechinha