No contexto da triagem neonatal é comum ouvirmos os termos doença genética, hereditária e congênita. Entenda as diferenças entre esses termos e saiba alguns exemplos nesse post.
Quando se fala em doença genética é comum que as palavras congênita e hereditária também apareçam. Apesar de, muitas vezes, serem utilizadas como sinônimos esses conceitos têm significados diferentes.
Entenda no post o que são doenças genéticas, doenças hereditárias e doenças congênitas, veja alguns exemplos e a importância da identificação precoce dessas doenças.
O que é doença genética?
Doenças genéticas são aquelas causadas por alguma alteração permanente no DNA (mutação) que compromete um gene e, por consequência, uma proteína, afetando o desenvolvimento e/ou funcionamento do organismo.
MutaçõesExistem muitos tipos de mutações que podem levar ao desenvolvimento de doenças. Algumas consistem na troca de somente uma base da sequência de DNA, outras podem envolver a perda ou duplicação de grandes trechos ou até mesmo a alteração de um cromossomo inteiro. |
As doenças genéticas podem ser monogênicas ou não-monogênicas. As monogênicas são causadas por alterações em apenas um gene, geralmente se manifestam na infância e são hereditárias, ou seja, herdadas dos pais.
Já as não-monogênicas são causadas por alterações em mais de um gene, por isso também são chamadas de poligênicas. As doenças não-monogênicas também podem ser hereditárias.
Exemplos de doenças genéticas
O câncer é um grupo de mais de 100 doenças causadas por alterações em genes específicos e que provocam o descontrole na divisão das células, levando ao desenvolvimento de um tumor. Todos os cânceres são doenças genéticas, podendo ser esporádicos ou hereditários.
Cânceres esporádicos representam cerca de 90% dos casos e são causados pelo acúmulo de alterações genéticas somáticas ao longo da vida. Essas alterações podem acontecer devido a vários fatores, como exposição excessiva à radiação UV, a fumaças (de cigarro, por exemplo) e a outros compostos cancerígenos (pesticidas, alimentos embutidos, álcool).
Cânceres hereditários são mais raros e representam cerca de 10% dos casos. Um exemplo é o retinoblastoma, um tipo de câncer ocular que é prevalente em crianças.
Ainda dentro das doenças genéticas, existem as doenças genéticas raras, que afetam menos de 65 pessoas a cada 100.000 brasileiros. No entanto, juntas elas são muitas. Até o momento, foram descritas mais de 6.000 doenças genéticas raras, sendo que mais de 90% delas se manifestam já na infância.
O que é doença hereditária?
Uma doença hereditária é causada por alterações no DNA que são transmitidas de geração em geração, herdadas de pelo menos um dos pais. Assim, toda doença hereditária é uma doença genética, mas nem toda doença genética é hereditária.
HereditariedadeOs seres humanos têm 23 pares de cromossomos, sendo que metade é herdada da mãe, e a outra metade é herdada do pai. Desses 23 pares, 22 são chamados autossômicos, enquanto o outro par é o sexual, sendo que pessoas do sexo feminino possuem dois cromossomos X, e pessoas do sexo masculino um X e um Y. |
As doenças genéticas hereditárias apresentam diversos padrões de herança, como veremos a seguir.
Padrão de herança diz respeito à forma como a doença se manifesta em diferentes membros da família e como os genes precisam ser herdados para a doença se manifestar.
Padrão de herança autossômica recessiva
As doenças de padrão de herança autossômica recessiva são causadas por um par de alterações genéticas, herdadas tanto do pai quanto da mãe, e que se localizam nos cromossomos autossômicos. Esse padrão de herança é o mais comum entre as doenças genéticas raras, compreendendo cerca de 45% delas.
Para doenças com esse padrão de herança, podemos ter indivíduos com as duas cópias da alteração genética, e que serão afetados pela doença, e indivíduos com uma única cópia, os chamados portadores, que geralmente não desenvolvem os sintomas mas podem passar a mutação para os filhos, mantendo o risco da doença na família.
A análise de um heredograma, como o representado acima, permite saber as chances de um casal ter um filho afetado por uma determinada doença, em cada gravidez, de acordo com sua composição genética. No caso acima, o casal representado à esquerda tem 50% de chances de ter um filho portador da alteração genética e 50% de chances de ter um filho não afetado.
Um exemplo de doença com esse padrão de herança é a galactosemia.
Padrão de herança autossômica dominante
Nas doenças de padrão de herança autossômica dominante uma única cópia da alteração (herdada do pai ou da mãe) localizada nos cromossomos autossômicos, é geralmente suficiente para a manifestação dos sintomas. Esse padrão de herança é menos comum que as autossômicas recessivas e compreende cerca de 32% das doenças genéticas raras, por exemplo.
É importante reforçar que existem doenças com esse padrão em que, mesmo herdando uma cópia da mutação, alguns indivíduos não manifestam os sintomas. Isso pode acontecer por diversos motivos, como efeitos ambientais relacionados ao estilo de vida ou mecanismos biológicos que compensam ou anulam o efeito da mutação no organismo. Quando isso acontece, dizemos que a alteração causadora da doença tem penetrância incompleta, ou seja, não afeta todas as pessoas que possuem a mutação.
Penetrância diz respeito à quantidade de pessoas com uma determinada alteração genética que manifestam a doença relacionada.
Um exemplo de doença com esse padrão de herança é a osteogênese imperfeita, uma doença esquelética que causa fragilidade nos ossos, provocando fraturas recorrentes.
Padrão de herança ligada ao X
As doenças de padrão de herança ligada ao X são causadas por alterações genéticas no cromossomo X e, portanto, podem ter efeitos diferentes em pessoas do sexo masculino e do sexo feminino. Doenças ligadas aos cromossomos sexuais (X e Y) são ainda menos comuns e compreendem somente cerca de 10% das doenças genéticas raras.
Padrão de herança recessiva ligada ao cromossomo X
Como homens possuem apenas um cromossomo X, uma cópia do gene alterada é suficiente para causar a doença nesse tipo de herança. Já no caso das mulheres, como possuem dois cromossomos X, é necessário herdar a alteração genética de ambos os pais para desenvolver a doença. Se a mulher tiver apenas uma cópia do cromossomo X alterada pela mutação, será portadora.
Para doenças com esse padrão de herança, as chances de ter filhos portadores ou afetados varia dependendo de quem possui a mutação: o pai ou a mãe.
Um exemplo de doença com esse padrão de herança é a Distrofia Muscular de Duchenne.
Padrão de herança dominante ligada ao cromossomo X
Diferentemente do padrão de herança recessivo, aqui uma cópia alterada pode ser suficiente para afetar tanto homens quanto mulheres. É importante lembrar que esse padrão de herança também pode ter penetrância incompleta, principalmente em mulheres, podendo não manifestar os sintomas em todas as pessoas com a mutação.
Nesse caso, as chances de ter filhos afetados também varia dependendo de quem possui a mutação: o pai ou a mãe.
Um exemplo de doença com esse padrão de herança é a Doença de Danon, que acomete o coração e pode apresentar manifestação mais leve em mulheres.
Padrão de herança ligada ao Y
As doenças de padrão de herança ligada ao Y são causadas por alterações genéticas no cromossomo Y e, portanto, só podem ser transmitidas de pai para filho. Como discutido no tópico anterior, doenças ligadas aos cromossomos sexuais (X e Y) são ainda menos comuns e compreendem somente cerca de 10% das doenças genéticas raras.
Resumindo, existem várias doenças genéticas, mas nem todas são hereditárias. Muitas doenças são multifatoriais, ou seja, dependem de outros fatores que vão além da genética, como o estilo de vida (hábitos de alimentação, prática de exercícios físicos, estresse), para se manifestarem. Além disso, muitas doenças genéticas são poligênicas e, portanto, seu padrão de herança é muito mais complexo.
As doenças genéticas hereditárias monogênicas seguem os padrões descritos aqui, mas representam um grupo de doenças menos comuns, que afeta cerca de 5% da população.
O que é doença congênita?
Doenças congênitas são aquelas que, independentemente da causa, se manifestam antes ou durante o nascimento, afetando a saúde da criança desde o primeiro dia de vida. As doenças congênitas também podem ser silenciosas e só apresentarem sintomas depois de dias ou meses.
Doença congênita não é sinônimo de doença genética ou de doença hereditária. O termo congênito significa “o que nasceu com uma pessoa, o que é inato”. Uma doença congênita pode ser identificada antes mesmo do nascimento.
Algumas das doenças congênitas são genéticas, como os diversos tipos de erros inatos do metabolismo e os erros inatos de imunidade. Essas doenças são causadas por mutações em genes que atuam no metabolismo de vitaminas, minerais, proteínas, carboidratos e gorduras ou no sistema imunológico, respectivamente, e costumam apresentar sintomas logo nos primeiros dias de vida.
A acidúria glutárica tipo I, por exemplo, é um outro exemplo de uma doença genética congênita, do grupo dos erros inatos do metabolismo, que impede a metabolização de proteínas, causando perda do tônus muscular e das habilidades motoras, se não tratada.
Já as doenças congênitas que não são genéticas geralmente são causadas por infecções (como rubéola e sífilis) ou por uma dieta desbalanceada (deficiência ou excesso de algum nutriente, por exemplo) da mãe durante a gestação.
Como detectar doenças genéticas?
Algumas doenças genéticas podem ser identificadas já na triagem neonatal. No entanto, o número de doenças cobertas pelo Teste do Pezinho oferecido pelo SUS, ou pelas versões ampliadas e expandidas disponíveis na rede privada, ainda é baixo.
Testes genéticos podem ser a melhor opção para a detecção dessas doenças, tanto em indivíduos assintomáticos (teste de triagem, como o Teste da Bochechinha) quanto em pessoas que apresentam sintomas (teste de diagnóstico, como os oferecidos pela Mendelics). Identificar precisamente qual mutação causa a doença é muito importante para o acompanhamento médico do paciente e para a escolha do melhor tratamento.
Além disso, através de testes genéticos capazes de identificar portadores de alterações (como o Painel de Triagem de Portador de Mutações de Doenças Recessivas) é possível que futuros pais saibam qual o risco de terem filhos afetados por uma doença genética e possam fazer um planejamento familiar mais adequado.
O Teste da Bochechinha e a identificação de doenças genéticas
No contexto da triagem neonatal, o Teste da Bochechinha, desenvolvido pela Mendelics, é um teste que investiga mais de 340 doenças genéticas raras e tratáveis que se manifestam, na sua maioria, ainda na primeira infância.
A partir de uma amostra de saliva, coletada de forma simples, rápida e indolor, é possível analisar o DNA do recém-nascido, em busca de alterações genéticas.
O Teste da Bochechinha é um teste de triagem, que usa a tecnologia de Sequenciamento de Nova Geração (NGS), e que complementa o Teste do Pezinho oferecido pelo SUS.
Por se tratar de um teste de triagem, não há necessidade de pedido médico para a realização do Teste da Bochechinha, mas reforçamos a importância do acompanhamento especializado durante o desenvolvimento do recém-nascido.
O Teste da Bochechinha está revolucionando a triagem neonatal e ajudando na detecção das doenças genéticas, possibilitando melhor tratamento e maior qualidade de vida aos pacientes. Tem alguma dúvida sobre o Teste da Bochechinha? Entre em contato conosco pelo site ou deixe seu comentário abaixo. É médico e quer oferecer o Teste da Bochechinha em seu consultório? Seja um parceiro!
Revisão |
O que é doença genética?
Doenças genéticas são aquelas causadas por alguma alteração permanente no DNA (mutação) que compromete um gene e, consequentemente, uma proteína, afetando o desenvolvimento e/ou funcionamento do organismo. O que é doença hereditária? Uma doença hereditária é causada por alterações no DNA que são transmitidas de geração em geração, herdadas de pelo menos um dos pais. O que é doença congênita? Doenças congênitas são aquelas que, independentemente da causa, se manifestam antes ou durante o nascimento, afetando a saúde da criança desde o primeiro dia de vida. Como detectar doenças genéticas? Os testes genéticos de triagem ou de diagnóstico podem identificar mutações que causam doenças genéticas. O Teste da Bochechinha é um teste de triagem neonatal desenvolvido pela Mendelics e que detecta mais de 340 doenças raras e tratáveis que se manifestam ainda na infância. |
Referências
- Retinoblastoma: o tumor ocular mais comum em crianças. Fiocruz.
- Rare Genetic Diseases: Nature’s Experiments on Human Development. iScience. 2020;23(5):101123.
- Principais Questões sobre Osteogênese Imperfeita. Portal de boas práticas FIOCRUZ. Accessed August 11, 2022.
- Fernandes F, Oliveira Antunes M, Tiemi Hotta V, Eduardo Rochitte C, Mady C. Doenças de Depósito como Diagnóstico Diferencial de Hipertrofia Ventricular Esquerda em Pacientes com Insuficiência Cardíaca e Função Sistólica Preservada. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Published online 2019.
Boa noite. Teste da bochechinha em gêmeos univitelinicos preciso realizar nos dois bebês ?
Olá Sebastião, agradecemos o seu interesse no nosso blog!
Apesar de poderem existir algumas diferenças mesmo entre gêmeos univitelinos, elas são raras, portanto a recomendação é que se faça um único teste, em um dos bebês.
Quaisquer outras dúvidas, estamos à disposição!
a minha mãe descobriu que tem um problema congênito no coração. corre o risco das filhas dela ter esse problema também?
Olá Rosinete,
Doenças congênitas podem ter diferentes causas e nem todas são hereditárias.
Recomendamos que procure pelo seu médico para que ele possa avaliar a causa do problema congênito de sua mãe e os riscos da doença em outros familiares.
Estamos à disposição!