Entenda o que é cistinose nefropática, qual o seu padrão de herança, sintomas, formas de detecção e como é o tratamento da doença.
O que é cistinose nefropática?
A cistinose nefropática é uma doença genética rara caracterizada pelo acúmulo de cristais de cistina em todo o organismo, principalmente nos rins e nos olhos.
A cistinose nefropática afeta aproximadamente um a dois indivíduos a cada 100.000 nascidos vivos.
Qual a causa da cistinose nefropática?
A cistinose nefropática é um erro inato do metabolismo causado por alterações nas duas cópias (materna e paterna) do gene CTNS, responsável por produzir a proteína cistinosina. Esta proteína é responsável pelo transporte do aminoácido cistina de dentro para fora dos lisossomos (compartimento celular responsável por digerir e reciclar moléculas).
Em pacientes com cistinose nefropática, a cistinosina está reduzida ou ausente, por isso, a cistina, que é insolúvel em água, se acumula nos lisossomos formando cristais, levando à destruição das células.
Como os lisossomos estão presentes em todos os tipos de célula, o acúmulo de cistina ocorre em todo o organismo, tornando a cistinose uma doença sistêmica. Os principais sintomas da doença ocorrem nos rins e nos olhos, porém, com o tempo (e sem tratamento), os sintomas podem ser vistos em praticamente todos os órgãos.
Mais de 100 mutações no CTNS já foram associadas à cistinose nefropática, incluindo deleções (alterações mais frequentes) e substituições de nucleotídeos.
Como a cistinose nefropática é herdada?
A cistinose nefropática possui padrão de herança autossômica recessiva, ou seja, o bebê desenvolve a doença quando herda variantes patogênicas nas duas cópias do gene CTNS, uma recebida do pai e outra da mãe (mutação em homozigose).
Quando a criança herda apenas uma cópia alterada do gene, considera-se que ela é portadora da doença. Portadores não desenvolvem os sintomas, porém podem transmitir a cópia alterada do gene para seus filhos.
Pais de uma criança com cistinose nefropática tem 25% de chances de ter outro filho com a doença. Por isso a importância do aconselhamento genético para famílias com histórico da doença.
Sinais e sintomas da cistinose
Existem três formas diferentes, baseadas na gravidade e na idade do início dos sintomas:
Cistinose nefropática infantil:
Forma mais comum e grave da doença. Os sintomas surgem ainda nos primeiros meses de vida ( entre 6-12 meses) e incluem:
- Síndrome de Fanconi renal: condição que os rins do paciente não conseguem absorver nutrientes e minerais, como sódio e potássio. Como resultado, esses nutrientes essenciais são perdidos na urina.
- Insuficiência glomerular renal: causada pela perda do funcionamento dos rins.
Com o passar do tempo, os pacientes progridem para insuficiência renal e podem precisar de transplante.
- Atraso no crescimento
- Dificuldade de deglutição
- Fraqueza muscular
- Desidratação: a criança sente sede constante.
- Sintomas oculares: lesão na córnea, fotofobia (sensibilidade à luz), entre outros.
Sinais de problemas oculares geralmente aparecem após os dois anos de idade
Cistinose nefropática juvenil
A cistinose nefropática juvenil apresenta os mesmos sinais e sintomas da cistinose nefropática infantil, mas geralmente ocorrem mais tarde na infância ou na adolescência.
Cistinose não nefropática (ou adulta)
Também chamada de cistinose ocular, a forma adulta da doença é marcada principalmente por sintomas oculares e fotofobia e as pessoas geralmente não têm problemas com os rins.
Como é feito o tratamento da cistinose nefropática?
A cistinose não tem cura. O tratamento é realizado por uma equipe multidisciplinar e baseado nos sinais e sintomas de cada paciente.
Bebês e crianças pequenas com cistinose podem precisar receber líquidos e eletrólitos, como sódio e potássio.
Atualmente, a principal terapia é a depleção da cistina com cisteamina, que comprovadamente diminui a progressão da insuficiência renal e previne ou diminui os sintomas extra-renais. Em alguns casos, pode ser indicado o transplante de rins, para controle dos sintomas devido à insuficiência renal.
Com transplante renal, terapia com cistina e outros medicamentos, as pessoas com cistinose hoje vivem até a idade adulta, desde que sejam tratadas precocemente e adequadamente.
Como é feito o diagnóstico da doença?
A suspeita de cistinose nefropática é feita com base no exame clínico, e nos sintomas do paciente.
Podem ser realizados exames para detectar níveis anormais de cistina no sangue e para detectar cristais de cistina no olho.
A confirmação do diagnóstico da doença é feita pelo exame genético capaz de detectar alterações (em homozigose) no gene CTNS. Nesse caso, os Painéis de Sequenciamento de Nova Geração (NGS) para doenças renais e doenças genéticas de início precoce são indicados.
A realização do teste genético também é altamente recomendada para pessoas que tenham histórico familiar da doença.
A cistinose nefropática é uma das mais de 340 doenças investigadas no Teste da Bochechinha, um teste de triagem neonatal genética. Com esse teste, que pode ser realizado assim que a criança nasce, a doença pode ser identificada antes do início dos sintomas. Além disso, a coleta é muito simples, feita por swab bucal.
A doença não é avaliada no Teste do Pezinho básico do SUS e na maioria dos testes de triagem neonatal ampliados na rede particular.
Conheça a história do Benício e como o Teste da Bochechinha foi fundamental para seu diagnóstico
Benício é um dos filhos gêmeos de Bruno e Maria de Lourdes, que possui cistinose nefropática. Nesse episódio do programa #AMARemcasa, Mariana Kupfer entrevista os pais de Benício.
Bruno e Maria contam suas angústias ao observarem diferenças no comportamento e no desenvolvimento do Benício, em comparação com seu irmão gêmeo Bruno, sem obterem qualquer explicação ou diagnóstico para o que estava acontecendo.
Eles investiram muito tempo buscando entender os sintomas de Benício, que passou por vários especialistas e realizou diferentes exames até que ouviram falar do Teste da Bochechinha.
Além da cistinose nefropática, Benício também possui síndrome de Fanconi, e nessa entrevista, seus pais contam como o Teste da Bochechinha foi decisivo e essencial para ajudar em seu diagnóstico.
O Teste da Bochechinha pode ser feito em caso de suspeita de cistinose nefropática?
O Teste da Bochechinha é um teste de triagem neonatal que busca identificar bebês com risco de desenvolver doenças que se manifestam logo nos primeiros meses ou anos de vida.
Quando a criança já manifesta sinais de alguma doença, recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita. Para o diagnóstico de cistinose nefropática, a Mendelics oferece vários exames que analisam o gene CTNS, incluindo o Painel de Doenças Tratáveis, Painel de Distúrbios da Função Renal e Painel Completo de Doenças Renais.
É importante ressaltar que exames de diagnóstico, diferentemente dos testes de triagem, só podem ser realizados mediante solicitação e acompanhamento médico.
Tem alguma dúvida sobre o Teste da Bochechinha? Deixe nos comentários ou entre em contato conosco pelo site ou pelo telefone (11) 5096-6001.
É médico e quer oferecer o Teste da Bochechinha em sua clínica, maternidade ou hospital? Converse com a gente e seja nosso parceiro.
Revisão
A cistinose nefropática é uma doença rara, que atinge cerca de 2 a cada 100.000 pessoas, sendo caracterizada pelo acúmulo de cristais de cistina em todo o organismo, principalmente nos rins e nos olhos.
A cistinose nefropática é causada por mutações no gene CTNS e tem padrão de herança autossômica recessiva. Portanto, somente pessoas que herdaram as duas cópias alteradas do gene, uma da mãe e outra do pai, desenvolvem a doença.
Os principais sintomas da cistinose nefropática são insuficiência renal, problemas oculares, sede constante, aumento no volume de urina e na vontade de urinar, desidratação, acidose sanguínea, febre e problemas no metabolismo do sódio e do potássio.
Referências
- Nesterova G, Gahl WA. Cystinosis. 2001 Mar 22 [Updated 2017 Dec 7]. In: Adam MP, Mirzaa GM, Pagon RA, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2023.
- Cystinosis. Genetic and Rare Diseases (GARD).Bäumner S, Weber LT.
- Nephropathic Cystinosis: Symptoms, Treatment, and Perspectives of a Systemic Disease. Front Pediatr. 2018.
- Nephropathic Cystinosis. National Kidney Foundation.
- About Nephropathic Cystinosis- What is cystinosis? PROCYSBI.
Bom dia. Eu tenho cistinose nefropatia juvenil. Descobriram que eu tinha insuficiência renal crônica com 15 anos e só depois com 22 anos é que descobriram que eu tinha a cistinose. A minha dúvida é se no caso de eu engravidar se eu posso passar essa doença sendo só eu a ter a doença?
Olá Sílvia. Agradecemos o seu interesse no conteúdo do nosso blog.
A cistinose nefropática é uma doença com padrão de herança autossômico recessivo, isso significa que a doença só se manifesta se você herdar a mutação tanto pai quanto da mãe. Se o seu parceiro não for portador da doença (não possuir nenhuma cópia da mutação), seus filhos herdarão somente uma cópia sua, e não desenvolverão a doença.
Estamos à disposição caso tenha mais dúvidas.
Olá, minha irmã teve um filho com cistinose Nefropatia . Gostaria de saber se meu filho por eu ser irmã dela, se meu filho pode herda algum dia do filho da minha irmã. Ou seja herdará do priminho?
Olá Rosi
Para que a cistinose se desenvolva o seu filho tem que herdar a mutação tanto de você quanto do pai. Como o seu sobrinho tem a doença, a sua irmã deve ser portadora da mutação, mas não temos como afirmar se você, ou o pai, sejam.
Converse com o seu pediatra sobre o histórico familiar para que vocês decidam juntos como acompanhar o desenvolvimento do seu filho.
Quaisquer outras dúvidas, estamos à disposição!
Aonde eu posso acha dados científicos que comprovam supostas melhoras
Olá, José!
Agradecemos seu comentário!
A cistinose nefropática não tem cura e o tratamento deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar e baseado nos sinais e sintomas de cada paciente.
De forma geral, quanto mais cedo o diagnóstico e o início do tratamento, melhor a evolução do paciente.
Os medicamentos desenvolvidos para o tratamento de qualquer doença devem passar por rigorosos testes que comprovem sua segurança e eficiência, além de terem a necessidade da aprovação pelo órgão competente de saúde de cada país.
Estamos à disposição.