Entenda as diferenças entre a fluorimetria e o Teste da Bochechinha (NGS)
Várias das doenças investigadas na triagem neonatal tradicional, como o Teste do Pezinho, são detectadas utilizando uma técnica chamada fluorimetria. Essa técnica é capaz de quantificar substâncias específicas medindo a intensidade da luz absorvida e emitida por elas.
Nesse artigo explicamos como a fluorimetria funciona e quais exames podem ser realizados com ela, além de mostrar as diferenças entre os testes feitos com fluorimetria e o Teste da Bochechinha.
Como a fluorimetria funciona?
A fluorimetria é uma técnica analítica quantitativa, ou seja, ela determina a quantidade ou a concentração de uma determinada substância em uma amostra (sangue, por exemplo). Isso é alcançado medindo a intensidade de luz emitida por um fluoróforo.
Fluoróforos são moléculas químicas capazes de emitir luz (brilhar) depois de receberem energia de uma fonte de luz específica.
Como mostrado na figura abaixo, o aparelho (espectrofotômetro) possui uma fonte de luz e um filtro que seleciona um comprimento de onda específico na região do espectro visível ou do ultravioleta. Esse feixe de luz transfere energia para a molécula que queremos analisar.
O espectro visível é a coleção de todas as cores que os seres humanos são capazes de enxergar.
Como cada molécula absorve energia em um comprimento de onda (luz/cor) diferente, podemos selecionar qual substância estamos analisando mudando o filtro do aparelho para detectar somente o que temos interesse.
Depois de ser incidida com o feixe de luz, a molécula precisa dissipar a energia que absorveu. Isso acontece de duas formas principais:
- Emissão de calor: a molécula pode eliminar o excesso de energia vibrando as suas estruturas químicas e produzindo calor.
- Emissão de luz: a molécula pode eliminar energia na forma de luz, que terá um comprimento de onda (luz/cor) específico. Isso se chama fotoluminescência.
A fluorescência é um tipo de fotoluminescência.
O espectrofotômetro mede a intensidade da luz emitida pela molécula em um detector de fluorescência. Quanto mais intensa a fluorescência, maior é a concentração da molécula na amostra. Assim conseguimos analisar se alguma substância está com concentração muito alta ou muito baixa no sangue de um paciente, por exemplo.
A fluorimetria é uma técnica com alta especificidade, pois conseguimos selecionar as moléculas que vamos analisar com bastante precisão e sensibilidade, podendo detectar até concentrações muito baixas.
No entanto, alguns fatores como o pH, temperatura e a composição da amostra (presença de interferentes) podem prejudicar a análise.
Fluorimetria na Triagem Neonatal
Dentre as doenças triadas no Teste do Pezinho do SUS, Fenilcetonúria, Fibrose Cística e Hipotireoidismo Congênito podem ser analisadas utilizando fluorimetria. Para cada uma dessas doenças, é analisada uma molécula específica, com diferentes padrões de absorção e emissão de luz, o que permite detectar alterações com bastante precisão.
No caso da Fenilcetonuria, caracterizada pelo acúmulo do aminoácido fenilalanina, o teste dosa a concentração desse aminoácido no sangue do recém-nascido. A Fibrose Cística é investigada com a dosagem da enzima tripsina, que apresenta níveis altos em indivíduos afetados pela doença.
Já para a análise de Hipotireoidismo Congênito, caracterizado por níveis muito baixos dos hormônios da tireóide (triiodotironina – T3 – e tiroxina -T4) e níveis altos do hormônio estimulante da tireóide (TSH), o teste dosa a concentração de TSH e T4.
A triagem neonatal tradicional utiliza técnicas como a fluorimetria para analisar a alteração dos níveis de aminoácidos, proteínas, hormônios, vitaminas e sais minerais, causados por alguma doença, quando ela já apresenta sintomas. Por isso, o momento da coleta é muito importante.
É recomendado que o Teste do Pezinho seja coletado entre o 3º e 7º dia de vida do bebê.
Apesar da fluorimetria ser uma metodologia muito precisa e sensível, fatores como a alimentação do recém-nascido, momento de coleta e armazenamento da amostra, assim como temperatura, pH e interferentes, como citado anteriormente, podem resultar em falsos positivos e falsos negativos.
Por isso, nos casos de resultado positivo, para qualquer uma dessas doenças, é necessário realizar outros testes confirmatórios para o diagnóstico. Dentre as metodologias recomendadas pelo Ministério da Saúde para confirmação de diagnóstico está o teste genético.
O Teste da Bochechinha (NGS) e a triagem neonatal genética
Na triagem neonatal genética o DNA do bebê é analisado para investigar se há mutações que podem causar alguma doença rara que se manifesta nos primeiros meses ou anos de vida.
O Teste da Bochechinha é feito por meio da técnica de Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que é capaz de analisar, de uma só vez, centenas de genes associados às doenças raras, incluindo Fenilcetonúria, Fibrose Cística e alguns casos de Hipotireoidismo Congênito.
Conheça a lista completa de genes e doenças analisadas.
Testes genéticos, como o Teste da Bochechinha, analisam centenas de doenças em um único exame e podem ser coletados logo no primeiro dia de vida do bebê de forma simples e indolor. Dessa forma, o Teste da Bochechinha complementa os testes de triagem neonatal tradicionais e contribui para a identificação precoce de centenas de doenças.
Atualmente o teste já avalia mais de 340 doenças raras e tratáveis que se manifestam na infância, dando ao médico informações importantes para o acompanhamento e tratamento personalizado da criança, caso seja encontrado um risco aumentado de desenvolver alguma doença rara.
A análise feita pelo Teste da Bochechinha é muito segura, prática e precisa, e contribui para uma triagem neonatal completa dos recém-nascidos, complementando muito bem a triagem convencional feita no Teste do Pezinho.
Como analisa diretamente o DNA do recém nascido, o resultado do Teste da Bochechinha raramente necessita de confirmação por outras metodologias, facilitando a jornada do médico e do paciente em busca de um diagnóstico em caso de resultado positivo para alguma doença investigada.
Além disso, a coleta do nosso teste é muito simples, feita com o auxílio de um cotonete (swab) no interior da bochecha do bebê, não sendo necessária a coleta de sangue, e pode ser feita logo no primeiro dia de vida.
Conheça mais sobre o testeReferências:
- R. Lakowicz, Principles of fluorescence spectroscopy. Terceira edição. Springer Science & Business Media, 2007.
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