logo tipo epd
Início » Doenças e Tratamentos » Doença da urina do xarope de bordo

Doença da urina do xarope de bordo

Compartilhe:

Foto de uma garrafa e um copo com xarope de bordo

Texto por: Juliana Gomes

10/03/22

O que é a doença da urina do xarope de bordo?

A leucinose, mais conhecida como doença da urina do xarope de bordo, é uma doença genética rara que acomete 1 a cada 185.000 nascimentos.

Trata-se de um erro inato do metabolismo, em que os aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina) não são metabolizados adequadamente. O acúmulo desses aminoácidos compromete o bom funcionamento do sistema nervoso central, sistema imune e músculos.

Erro inato do metabolismo é um conjunto de doenças genéticas em que uma ou mais enzimas não funcionam corretamente no organismo, resultando no acúmulo ou na falta de uma substância no corpo.

Existem subtipos da doença, incluindo a forma clássica, a intermediária e a intermitente. Elas se diferenciam entre si de acordo com a apresentação clínica, idade de início dos sintomas e nível de atividade do complexo enzimático BCKD, envolvida na metabolização dos aminoácidos de cadeia ramificada. 

Ilustração mostrando a metabolização de uma proteína, que é quebrada em aminoácidos. Em seguida, o complexo enzimático metaboliza os aminoácidos de cadeia ramificada, mas quando alterado, esses aminoácidos não são metabolizados.

A proteína, quando metabolizada, é quebrada em subunidades menores, os aminoácidos. Em seguida, ocorre a metabolização dos aminoácidos. No caso dos aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina), a metabolização é feita pelo complexo enzimático BCKD. Alterações genéticas podem causar o mau funcionamento do complexo, de forma que os aminoácidos de cadeia ramificada não sejam metabolizados e se acumulem no organismo.

Como essa doença é herdada?

Os genes associados ao desenvolvimento da doença da urina do xarope de bordo são BCKDHA, BCKDHB, DBT e DLD. Esses genes são responsáveis por codificar as subunidades que compõem o complexo enzimático BCKD. A condição é monogênica, ou seja, basta que um deles tenha alterações para que ela se desenvolva.

A doença da urina do xarope de bordo segue um padrão de herança autossômico recessivo, em que as duas cópias do gene carregam uma mutação.

Entenda mais sobre padrões de herança de doenças genéticas.

Tabela com os principais genes associados à Doença da Urina do Xarope de Bordo e a proporção de casos da doença associados a cada gene

Como é feito o diagnóstico?

Em geral, a doença da urina do xarope de bordo se desenvolve nos primeiros dias de vida do recém-nascido. O primeiro sinal, e o mais característico da doença, é o odor adocicado na urina e na cera de ouvido do bebê, que lembra o xarope de bordo (também conhecido em inglês como Maple syrup). 

Outros sinais clínicos dessa doença são irritabilidade, cetonúria (corpos cetônicos na urina), dificuldade para se alimentar e, se não for imediatamente tratada, danos graves ao cérebro.

Formas mais leves da doença da urina do xarope de bordo podem se apresentar apenas mais tarde durante a infância e incluem anorexia, atrasos de crescimento e desenvolvimento. Em episódios de descompensação metabólica aguda, o quadro pode também se agravar e levar a danos cerebrais.

O diagnóstico da doença da urina do xarope de bordo depende dos sinais clínicos e da análise dos níveis séricos dos aminoácidos leucina, isoleucina e valina, que se apresentam elevados na doença. Os testes genéticos são úteis para identificar de forma precoce as formas da doença que não se manifestam nos primeiros dias de vida, na confirmação do diagnóstico, para o melhor entendimento do prognóstico e podem auxiliar na individualização do tratamento e também no aconselhamento genético da família. 

Quanto antes for realizado o diagnóstico, mais cedo os tratamentos e o acompanhamento médico podem ser iniciados, reduzindo o risco de sequelas irreversíveis e aumentando a qualidade de vida do paciente. Pacientes diagnosticados de forma rápida, e que tiveram o tratamento prontamente iniciado, possuem um prognóstico muito bom.

Quais os tratamentos para a doença da urina de xarope de bordo?

A doença da urina de xarope de bordo possui um tratamento principalmente nutricional, com  uma dieta restrita em leucina e livre de aminoácidos de cadeia ramificada. Por isso, recomenda-se que alimentos ricos em proteínas não sejam consumidos, como leite e derivados, carnes em geral, ovos, castanhas e chocolate. É recomendada também a suplementação dos aminoácidos que não estão sendo ingeridos. 

Outros tratamentos podem ser necessários dependendo dos sinais e sintomas de cada paciente.

A supervisão médica é essencial para acompanhamento da dieta, que deve ser mantida por toda a vida, e para o monitoramento clínico e bioquímico do paciente. Assim, é possível prevenir ou reduzir a severidade de complicações da doença e proporcionar mais qualidade de vida ao paciente

Qual a importância do Teste da Bochechinha para a detecção precoce?

Há países que fazem a triagem neonatal da doença da urina do xarope de bordo em todos os recém-nascidos. Os Estados Unidos, por exemplo, realizam essa triagem desde 1964. Atualmente, no Brasil, o rastreamento não está disponível no Teste do Pezinho básico disponibilizado pelo SUS, apenas nas versões mais abrangentes do teste disponíveis na rede particular.

O Teste da Bochechinha é uma triagem neonatal genética que investiga mais de 340 doenças tratáveis que se manifestam na infância, incluindo a análise dos 3 genes (BCKDHA, BCKDHB, DBT) que estão associados à quase totalidade dos casos da doença da urina do xarope de bordo.

A coleta do DNA é rápida, simples e indolor: basta utilizar o cotonete swab na parte interna da bochecha do bebê. Como o teste pode ser realizado desde o primeiro dia de vida, antes mesmo de qualquer sintoma aparecer, é possível realizar o acompanhamento médico e o tratamento adequado o mais cedo possível, diminuindo o risco das consequências graves dessa doença e proporcionando mais qualidade de vida ao bebê.

Meu filho tem suspeita de ter a doença da urina do xarope de bordo, posso fazer o Teste da Bochechinha para confirmar o diagnóstico?

Como o Teste da Bochechinha é uma triagem, ele não é recomendado para crianças que apresentam sintomas ou suspeitas clínicas.

Quando a criança já manifesta sinais e sintomas, recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita. 

A Mendelics realiza o diagnóstico genético da doença da urina do xarope de bordo através do Painel de Doenças Tratáveis, ou através do sequenciamento de nova geração (NGS) de genes específicos, de maneira customizada.

É importante ressaltar que exames de diagnóstico, diferentemente dos testes de triagem, só podem ser realizados mediante solicitação e acompanhamento médico.

Converse com o seu médico e entre em contato com nossa equipe para mais informações.

Referências:

Classic maple syrup urine disease. Orphanet. Disponível em <https://www.orpha.net/consor/cgi-bin/Disease_Search.php?lng=EN&data_id=20168>. Acesso em: 24/02/2022

Hassan SA, Gupta V. Maple Syrup Urine Disease. [Updated 2021 Nov 20]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557773/>. Acesso em: 24/02/2022

Strauss KA, Puffenberger EG, Carson VJ. Maple Syrup Urine Disease. 2006 Jan 30 [Updated 2020 Apr 23]. In: Adam MP, Ardinger HH, Pagon RA, et al., editors. GeneReviews® [Internet]. Seattle (WA): University of Washington, Seattle; 1993-2022. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1319/>. Acesso em: 24/02/2022

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *