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Fibrose Cística: importância do diagnóstico genético para novos tratamentos

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Texto por: Nathalia Taniguti

03/09/21

Em 2020, o medicamento ivacaftor foi incorporado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tornando o Brasil o 1º país da América Latina a ter o tratamento com o medicamento modulador do gene CFTR disponível gratuitamente na rede pública. 

Mais precisamente, o medicamento foi disponibilizado para tratamento de pacientes acima de 6 anos e 25kg que apresentem uma das seguintes mutações no gene CFTR: G55ID, G1244E, G1349D, G178R, G551S, S1251N, S1255P, S549N ou S549R.

A solicitação de incorporação foi feita com base em evidências dos ensaios clínicos realizados pela Vertex Pharmaceuticals e sustentados pelos achados do grande programa Projeto do sequenciamento do CFTR para Fibrose Cística, coordenado pelo Grupo Brasileiro de Estudos em Fibrose Cística (GBEFC) com apoio do laboratório Mendelics e patrocínio da Vertex Pharmaceuticals.

O projeto, que iniciou em 2017, envolveu mais de 50 centros de referência de tratamento de fibrose cística e realizou mais de 4 mil sequenciamentos genéticos. Para participar, o paciente precisava ser atendido por um médico do centro de referência, que realizava o seu cadastro no Registro Brasileiro de Fibrose Cística (REBRAFC) e, posteriormente, o paciente coletava uma amostra da saliva para o sequenciamento do gene CFTR, realizado pela Mendelics.

Por que o diagnóstico genético de fibrose cística foi tão importante para a incorporação do tratamento no SUS?

Para entender a importância do diagnóstico genético na incorporação desse medicamento no SUS é necessário relembrar o que é e quais as causas da fibrose cística.

Entenda a fibrose cística

A fibrose cística ou mucoviscidose é uma doença rara genética que afeta múltiplos órgãos, principalmente pulmões e pâncreas. É crônica e progressiva, com uma grave redução da expectativa de vida das pessoas acometidas. 

Estima-se que mais de 105 mil pessoas no mundo têm diagnóstico de fibrose cística, incluindo mais de 6 mil brasileiros.

A FC é causada por mutações no gene CFTR. Esse gene fornece as instruções para produzir uma proteína localizada na membrana das células que atua como uma “porta” (um canal celular) que controla a entrada e a saída de cloreto (um componente do sal) e água nas células do pulmão, pâncreas e de outros tecidos do organismo. 

As mutações presentes no gene CFTR fazem com que essa proteína não seja produzida na forma ou na quantidade correta, assim, ela não exerce a sua função adequadamente.

Como resultado, ocorre um desequilíbrio de sal e fluidos dentro e fora das células, originando um muco espesso e pegajoso, que provoca sintomas característicos da fibrose cística, como tosse persistente, pneumonia, bronquite, insuficiência respiratória e perda de sal pelo suor. Este último sintoma é tão marcante que a doença ficou conhecida como “Doença do Beijo Salgado”.

Para entender mais sobre fibrose cística, leia esse artigo.

Mutações no gene CFTR e fibrose cística

De acordo com o ClinVar, já foram identificadas mais 1.600 mutações no gene CFTR que causam fibrose cística. Algumas delas, como a F508del, são encontradas em milhares de pessoas afetadas, porém outras são extremamente raras e identificadas em poucas pessoas no mundo. 

Como cada mutação causa uma alteração diferente na proteína, os sintomas variam entre os pacientes, que exigem diferentes tratamentos. Por isso, é muito importante identificar qual é a mutação que o paciente com fibrose cística possui.

Ter o diagnóstico genético – ou genotipagem – é um desafio para muitos pacientes, que podem estar em locais sem acesso a exames genéticos ou com acesso apenas a técnicas limitadas. É comum, por exemplo, que seja pesquisada apenas a presença da mutação F508del, deixando o paciente sem respostas, e sem opções de tratamento, em caso de resultado negativo. 

De acordo com relatórios anteriores do REBRAFC, quase metade dos pacientes cadastrados no país (~46%) não conhecem qual mutação genética possuem. 

É por isso que esse projeto de sequenciamento foi tão importante, pois através dele, mutações menos comuns foram identificadas na população brasileira. 

No relatório apresentado pela Vertex Pharmaceuticals para a CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), apesar da mutação mais frequente (presente em 51,4% dos pacientes) ser a F508del, outras 287 variantes foram identificadas, incluindo as mutações G551D, G1244E, S1251N, S549N ou S549R – alvos do medicamento ivacaftor.

No Projeto do sequenciamento do CFTR para Fibrose Cística, a Mendelics teve papel essencial para o sequenciamento rápido e preciso do DNA dos pacientes que participaram do projeto.

Como o ivacaftor ajuda os pacientes com fibrose cística?

Nos pacientes que possuem mutações que respondem à ação do ivacaftor, a droga atua ajudando as “portas” (canais da célula) a ficarem abertas por mais tempo, permitindo que mais íons cloreto entrem e saiam das células. O movimento dos íons cloreto ajuda a manter o equilíbrio de sal e a água nos pulmões, aliviando os sintomas.

É importante ressaltar que o medicamento ivacaftor é direcionado apenas a pacientes com fibrose cística que possuem mutações específicas. É preciso conhecer previamente as mutações do paciente para poder solicitar e realizar o tratamento. Em caso de dúvidas, consulte um médico e o relatório técnico da CONITEC.

Atualizações nos tratamentos para Fibrose Cística
Consulta Pública para incorporação de novo medicamento modulador de CFTR: Tezacaftor-ivacaftor
Em fevereiro de 2022, a Conitec abriu uma Consulta Pública para incorporação do Tezacaftor-ivacaftor (Symdeko®) no SUS para tratamento de pacientes com FC com 12 anos de idade ou mais que tenham duas cópias da mutação F508del (homozigotos), ou que tenham uma cópia da mutação F508del e pelo menos uma das seguintes mutações no gene CFTR (heterozigotos compostos): P67L, D110H, R117C, L206W, R352Q, A455E, D579G, 711+3A→G, S945L, S977F, R1070W, D1152H, 2789+5G→A, 3272-26A→G, e 3849+10kbC→T.
Tezacaftor-ivacaftor têm mecanismos de ação complementares: como descrito anteriormente, o ivacaftor aumenta a probabilidade de abertura do canal na superfície da célula para melhorar o transporte de cloreto; já o tezacaftor ajuda a célula a produzir mais “portas” e levá-las para a superfície celular. 
Logo, o tezacaftor ajuda a célula a produzir mais canais de íons cloreto enquanto o ivacaftor ajuda esses canais a funcionarem mais eficientemente. Esse efeito combinado do tezacaftor e do ivacaftor aumenta a quantidade e função da proteína CFTR na superfície celular, resultando no aumento do transporte de cloreto e, consequentemente, na melhora dos sintomas do paciente.

Teste da Bochechinha e identificação precoce de fibrose cística

A fibrose cística é uma das mais de 540 doenças investigadas no Teste da Bochechinha, teste de triagem neonatal genética que complementa o Teste do Pezinho básico oferecido pelo SUS. 

Através da moderna técnica de Sequenciamento de Nova Geração (NGS) analisamos o DNA do bebê em busca de alterações no gene CFTR e em centenas de outros genes. 

Bebês com alto risco de desenvolver fibrose cística identificados no Teste da Bochechinha podem iniciar precocemente o acompanhamento médico e tratamento da doença. Quanto mais cedo o diagnóstico e o início do tratamento, maior a qualidade de vida do paciente.

Quando a criança (ou pessoa de qualquer idade) tem sintomas de fibrose cística ou o recém-nascido teve o resultado do Teste do Pezinho básico positivo para fibrose cística, recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita. 

A Mendelics, laboratório que criou o Teste da Bochechinha, oferece exames para o diagnóstico de fibrose cística incluindo o Exame de Sequenciamento do gene CFTR e o Painel de Doenças Tratáveis

Seja um parceiro e ofereça o melhor cuidado para seus pacientes: ofereça o Teste da Bochechinha.

Se tiver alguma dúvida sobre o Teste da Bochechinha ou sobre a fibrose cística entre em contato conosco pelo e-mail contato@mendelics.com.br ou pelo telefone (11) 5096-6001.

Texto elaborado por: Ágatha Cristina em 02 de setembro de 2021

Texto atualizado por: Nathália Taniguti em 26 de agosto de 2024

Revisão

O que é fibrose cística?

A fibrose cística ou mucoviscidose é uma doença rara genética que afeta múltiplos órgãos, principalmente pulmões e pâncreas. É crônica e progressiva, com uma grave redução da expectativa de vida das pessoas acometidas.

Qual a importância da triagem neonatal genética para fibrose cística?

Ao identificar bebês saudáveis com risco aumentado para fibrose cística é possível iniciar o tratamento e acompanhamento especializado o mais cedo possível, antes dos sintomas iniciarem, impactando positivamente na qualidade de vida do paciente.

Referências

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