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Atrofia Muscular Espinhal: conheça a doença

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Texto por: Nathalia Taniguti

13/08/20

A atrofia muscular espinhal (AME) é uma doença neuromuscular, de origem genética, que afeta os neurônios motores da medula espinhal e do tronco cerebral. A morte dos neurônios motores provoca fraqueza e atrofia muscular e pode comprometer a respiração, locomoção e a alimentação, entre outras funções básicas do organismo (Figura 1).

Figura 1. Ilustração representando a medula espinhal e seus neurônios motores.

 

Na AME acontece a diminuição da quantidade da proteína SMN, que é fundamental para a manutenção dos neurônios motores. A SMN é produzida pelo gene SMN1 e, por isso, a identificação de AME pode ser feita por exames que conseguem identificar alterações no gene SMN1

A AME é uma doença rara, com incidência de 1 caso para cada 6 a 11 mil nascidos vivos.

 

Qual a causa da Atrofia Muscular Espinhal?

 

O gene SMN1 está localizado no braço longo (q) do cromossomo 5, por isso a doença é chamada também de AME 5q. A maioria dos indivíduos com AME (95-98%) são portadores de deleção do éxon 7 nas duas cópias do gene SMN1 (cópia materna e paterna), embora outros tipos de alterações também estejam relacionadas à doença. 

Quando o indivíduo tem apenas uma cópia do gene SMN1 alterada, considera-se que ele é portador (do inglês, “carrier”) da mutação. Portadores não desenvolvem sintomas da doença, porém podem passar a cópia alterada do gene para seus filhos. 

É estimado que 1 em cada 40-50 indivíduos sejam portadores de uma cópia do SMN1 alterada.

 

Qual a relação entre o SMN1, SMN2 e os sintomas da doença?

 

Além do gene SMN1, o gene SMN2 também tem papel importante na atrofia muscular espinhal.

Esses genes produzem uma proteína chamada de neurônio motor de sobrevivência (SMN, do inglês: survival motor neuron), que faz parte de um grupo de proteínas, o complexo SMN. A maior parte da SMN é produzida pelo gene SMN1; já SMN2 produz apenas uma pequena quantidade da proteína SMN funcional.

Em indivíduos com AME, as variantes presentes no gene SMN1 prejudicam a produção da SMN. 

A falta dessa proteína leva à morte de neurônios motores e, como resultado, os sinais não são transmitidos para os músculos, que enfraquecem e atrofiam, resultando nos sintomas da doença (Figura 2).

 

Figura 2. Ilustração representando a diferença entre o músculo de pessoas sem AME 5q e em pessoas com AME 5q. A falta de conexão do neurônio motor com o músculo causa fraqueza e atrofia progressiva.

 

Em pessoas com AME 5q a proteína SMN produzida pelo gene SMN2 ajuda a compensar parcialmente a deficiência causada pelas cópias alteradas do SMN1

 

A maior parte dos nossos genes possuem apenas duas cópias (alelos), herdadas dos pais. O SMN2 é uma exceção, pois pode apresentar de 0 a 8 cópias. A presença de três ou mais cópias do SMN2 está geralmente associada a quadros menos graves de AME. Vale destacar que essa relação não é totalmente bem estabelecida e o SMN2 não deve ser usado sozinho para prognóstico da doença (Figura 3).

 

Figura 3: Ilustração representando os genes relacionados e a proteína em pessoas com e sem AME 5q.

 

Como a AME é herdada?

 

A AME 5q tem padrão de herança autossômica recessiva, ou seja, para desenvolver a doença é necessário ter as duas cópias do gene SMN1 alteradas. Os pais portadores não possuem sintomas da doença, mas podem passar a alteração genética para os filhos, sendo um risco de 25% de ter um filho ou uma filha com a doença (Figura 4).

Figura 4. Padrão de herança da AME 5q. Na maioria dos casos de AME 5q (95-98%) as alterações são herdadas do pai e da mãe, conforme ilustrado na imagem. Os pais portadores não possuem sintomas da doença, mas transmitiram a alteração genética para o filho com AME 5q.

 

Em casos mais raros (~2%), o indivíduo pode herdar uma cópia alterada do SMN1 de um dos pais e ter uma alteração nova na outra cópia do gene (chamada de mutação de novo). Nesses casos, como apenas um dos pais é portador, o risco de outro indivíduo nascer na família com AME 5q é baixo.

 

Quais os tipos de AME e os sintomas?

 

A AME 5q é subdividida nos tipos 0, 1, 2, 3 e 4 que se diferenciam pela gravidade dos sintomas e a idade em que se iniciam. Existe outra classificação, que subdivide o tipo 1 em a, b e c, e o tipo 3 em a e b, com base em diferenças na sintomatologia.

É importante ressaltar que essas classificações são baseadas na história natural da doença e em dados da literatura científica. A melhora na qualidade do tratamento e o desenvolvimento de novas medicações têm impactado consideravelmente no curso natural da doença.

  • Tipo 0 (ou 1a): é a forma mais grave e rara da doença. Tem início no período pré-natal e geralmente os bebês não sobrevivem além dos seis meses de vida. Os bebês apresentam uma grave insuficiência respiratória e precisam de suporte ventilatório logo após o nascimento, além das dificuldades de se movimentar e de alimentação devido à incapacidade de sucção. 
  • Tipo 1 (ou 1b e c): é a forma mais frequente (60% dos casos) e a segunda mais grave. Os sinais e sintomas têm início no nascimento ou até os seis meses de vida. A criança tem dificuldade de realizar funções básicas como respirar, engolir e alimentar-se. A movimentação também é muito limitada e os bebês podem não atingir a habilidade de sentar. A progressão da doença é rápida e, caso não haja tratamento, a maioria das crianças não atingem os dois anos de idade.
  • Tipo 2: nessa forma, os sinais aparecem entre os seis e 18 meses de idade e a expectativa de vida varia do início da infância até a idade adulta. A criança não anda de forma independente, mas consegue se sentar com auxílio, embora essa capacidade possa ser perdida ao longo da vida. Possuem dificuldade de respirar, principalmente durante a noite.
  • Tipo 3 (ou 3a e b): nessa forma, que corresponde a 13% dos casos de AME, os sinais aparecem após os 18 meses. A criança consegue andar e ficar em pé, porém em algum momento da vida pode precisar do uso de cadeiras de rodas. Alguns casos mais graves podem ter dificuldade de se alimentar e de respirar. A expectativa de vida é próxima do normal.
  • Tipo 4: forma mais branda da doença e uma das mais raras (<5% dos casos). A fraqueza muscular aparece na segunda ou terceira década de vida. Pessoas com o tipo 4 não apresentam dificuldades respiratórias ou de alimentação. A expectativa de vida é normal. 

 

Como é feito o diagnóstico da AME?

 

A AME 5q é uma doença grave e progressiva, que geralmente se manifesta na infância. Nesse contexto, o diagnóstico precoce e início do tratamento o mais cedo possível são essenciais para uma melhor qualidade de vida da criança.

O diagnóstico da AME 5q é realizado com base em informações clínicas e pode ser confirmado com exame genético que avalia o gene SMN1

Figura 5. Diagnóstico genético de pacientes com suspeita clínica de AME 5q.

 

A deleção do éxon 7 que causa a maior parte dos casos de AME 5q pode ser identificada pela técnica de MLPA (do inglês, multiplex ligation-dependent probe amplification) do gene SMN1

A ausência dessa deleção não exclui o diagnóstico porque outras alterações na sequência do gene também precisam ser investigadas. Para isso, deve ser realizado um exame de sequenciamento do gene SMN1 ou um painel que inclua o gene.

Como o número de cópias do gene SMN2 pode modificar a gravidade da AME 5q também é recomendado que o gene seja incluído nas análises genéticas da doença. 

A realização do exame genético também é altamente indicada para pessoas que tenham histórico familiar da doença.

 

A Mendelics, laboratório que criou o Teste da Bochechinha, oferece exames genéticos para o diagnóstico da AME, incluindo o MLPA dos genes SMN1 e SMN2, o Painel de Doenças Tratáveis e o Exame de Sequenciamento do gene SMN1.

 

Todo exame de diagnóstico genético precisa de um pedido médico para ser realizado.

 

Como é feito o tratamento da AME?

 

Os avanços no tratamento têm garantido uma grande melhora na expectativa e qualidade de vida dos indivíduos com AME.

O tratamento da AME pode variar dependendo do seu tipo e da gravidade dos sintomas, e envolve diferentes aspectos de cuidado (nutricionais, respiratórios e ortopédicos) e uma equipe multidisciplinar, incluindo nutricionistas, enfermeiros, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. 

Nos últimos anos também foram desenvolvidos medicamentos que alteram o curso natural da doença, como, por exemplo, o Nusinersen (nome comercial: Spinraza), que ajuda o organismo a produzir mais proteínas SMN a partir do SMN2, e o Onasemnogene abeparvovec (nome comercial: Zolgensma), que funciona com um vetor viral que contém uma cópia do gene SMN1, aumentando a produção da proteína SMN. 

Entre 2019 e 2022, o Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou à sua lista de medicamentos o Nusinersen, o Onasemnogene abeparvovec e o Risdiplam (nome comercial: Evrysdi) para o tratamento da AME. Cabe reforçar que apenas um médico pode indicar o melhor tratamento para cada paciente.

Saiba mais sobre como a genética pode ajudar no tratamento de doenças raras neste post

 

Teste da Bochechinha e a identificação precoce de AME

 

Devido ao sucesso de tratamentos que alteram o curso da doença, desde 2018 a AME foi incluída na lista de doenças que podem ser triadas em recém-nascidos nos Estados Unidos. 

Foi estimado que a triagem neonatal nos Estados Unidos identificaria 364 bebês por ano; nesse mesmo período a identificação precoce da doença poderia prevenir a morte de 30 bebês por AME tipo 1 e 50 bebês seriam poupados da ventilação mecânica.

Somente testes genéticos, como o Teste da Bochechinha, são capazes de triar a doença logo após o nascimento. O Teste da Bochechinha é um teste de triagem neonatal genética que analisa mais de 340 doenças genéticas graves e que complementa o Teste do Pezinho oferecido pelo Sistema Único de Saúde – SUS.

No Teste da Bochechinha, o DNA do recém-nascido é analisado por Sequenciamento de Nova Geração (NGS) e são identificadas variantes que aumentam o risco para o desenvolvimento das doenças avaliadas, como a AME.

Por se tratar de um teste de triagem, o Teste da Bochechinha não necessita de pedido médico. Recomendamos, no entanto, o acompanhamento do recém-nascido por um especialista durante todo seu desenvolvimento.

O Teste do Pezinho do SUS foi ampliado em 2021 e, com isso, a análise para AME fará parte do Teste no futuro.

 

Tenho um paciente com suspeita de AME. Posso fazer o Teste da Bochechinha para confirmar o diagnóstico?

 

Não. O Teste da Bochechinha é um teste de triagem neonatal e deve ser feito em recém-nascidos assintomáticos. 

Quando a criança (ou pessoa de qualquer idade) tem algum sintoma de AME, recomenda-se realizar um exame genético de diagnóstico para confirmar a suspeita, como os exames oferecidos pela Mendelics Análise Genômica

Quer saber mais sobre a AME ou sobre o Teste da Bochechinha? Deixe sua pergunta nos comentários abaixo ou entre em contato com a nossa equipe pelo telefone (11) 5096-6001 ou através do nosso site.

É médico e quer oferecer o Teste da Bochechinha para seus pacientes? Entre em contato conosco e seja nosso parceiro.

 

Revisão

O que é atrofia muscular espinhal?

A atrofia muscular espinhal (AME) é uma doença neuromuscular, de origem genética, que afeta os neurônios motores da medula espinhal e do tronco cerebral. A morte dos neurônios motores provoca fraqueza e atrofia muscular e pode afetar funções básicas do organismo.

Qual a causa da atrofia muscular espinhal?

Alterações no gene SMN1 causam a atrofia muscular espinhal. O gene SMN1 produz a proteína SMN, importante para a manutenção dos neurônios motores.

Existe tratamento para atrofia muscular espinhal?

O tratamento da AME pode variar dependendo do seu tipo e da gravidade dos sintomas e pode envolver uma equipe multidisciplinar. Recentemente novos medicamentos foram incorporados ao SUS para o tratamento dos tipos 1 e 2 da doença.

Como pode ser feita a identificação da atrofia muscular espinhal?

Bebês assintomáticos podem fazer o Teste da Bochechinha, que avalia o gene SMN1, enquanto indivíduos sintomáticos, de qualquer idade, podem fazer os testes genéticos de diagnóstico oferecidos pela Mendelics Análise Genômica, como o Sequenciamento do gene SMN1 e o MLPA para o SMN1 e SMN2.


Referências

 

2 Comentários

  1. Paloma Bueno de Freitas Azevedo

    Bom dia!

    Meu cunhado tem esse diagnóstico,
    está em estágio 3.
    Gostaria de fazer exames no meu filho, para saber se ele herdou ou não.
    Poderia me auxiliar?

    Responder
    • Juliana Gomes

      Olá Paloma,

      O Teste da Bochechinha é um exame de triagem, recomendado para crianças sem sintomas até 1 ano de idade. Para saber mais informações sobre a indicação do Teste da Bochechinha ou do exame genético diagnóstico feito pela Mendelics (laboratório que criou o Teste), sugerimos que você entre em contato com a nossa equipe pelo telefone (11) 5096-6001 ou através do e-mail contato@mendelics.com.br

      Estamos à disposição!

      Responder

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